“Pais de crianças com a síndrome relatam que exercícios físicos e atividades calmas contribuem para a melhora dos sintomas”
Dr. Marcelo Valadares

Você já ouviu falar na Síndrome de Tourette? Trata-se de um distúrbio genético associado a alterações neurofisiológicas e neuroanatômicas, sendo os principais sintomas tiques motores (como repetição de movimentos de outras pessoas) e tiques vocais (como repetição ou imitação de ecos de palavras que a própria pessoa acabou de dizer).

Ainda não há cura e a Medicina busca terapias para casos mais severos da doença, como a Terapia de Estimulação Cerebral Profunda, a DBS (sigla em inglês para Deep Brain Stimulation).

A causa da síndrome, que também é denominada Síndrome de Gilles de la Tourette, ainda é desconhecida. A doença neuropsiquiátrica tem início geralmente na infância ou adolescência e estudos realizados nos Estados Unidos indicam que os meninos têm três a cinco vezes mais probabilidade de ter a síndrome do que as meninas.

Outro dado é que uma em cada 162 crianças naquele país tem a síndrome, conforme divulgado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC – Centers for Disease Control and Prevention, em inglês).

Tiques e a Síndrome de Tourette     

Tiques motores e vocais não aparecem necessariamente ao mesmo tempo e podem ser simples ou complexos. O quanto eles interferem na vida das pessoas está relacionado à gravidade dos sintomas que podem ser quase imperceptíveis, como um leve levantar de ombros, ou então chamar muita atenção, como saltos ou até fortes latidos, podendo gerar um comprometimento psicossocial.

Pais de crianças diagnosticadas com a síndrome relatam que grandes mudanças (como começar uma nova escola e mudar de classe) ou estar cansado pioraram os tiques de seus filhos. Mas eles também relatam que exercícios físicos ou uma atividade calma contribuem para a melhora dos sintomas.

Entre as crianças diagnosticadas com a síndrome nos Estados Unidos, 37% foram relatadas como tendo formas moderadas ou graves da doença.

Condições associadas

Segundo a Associação Solidária do TOC e Síndrome de Tourette (ASTOC ST), alguns autores observaram que mais de 40% dos pacientes com a síndrome apresentavam Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e aproximadamente 90% dos portadores da doença têm sintomas obsessivos.

Outras condições podem estar associadas. Segundo o CDC, 86% das crianças com a síndrome nos Estados Unidos também foram diagnosticadas com pelo menos um transtorno mental, comportamental ou de desenvolvimento, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), problemas de ansiedade, depressão, transtorno do espectro do autismo, dificuldades de aprendizagem, problemas de fala ou linguagem e atrasos de desenvolvimento, por exemplo.

Mais sobre os tiques

Alguns dados divulgados pela ASTOC ST:

  1. O início das vocalizações ocorre geralmente após tiques motores, na idade média de 11 anos, frequentemente na forma de pigarro, fungadelas, tosse e exclamações coloquiais, entre outras.
  2. A coprolalia (emissão involuntária de palavras obscenas/palavrões) é encontrada em menos de 1/3 dos casos.
  3. A copropraxia (gestos obscenos involuntários) é encontrada entre 1% e 21% dos casos.
  4. A ecolalia (repetir palavras ouvidas) e ecopraxia (repetir gestos vistos) e a palilalia (repetir as próprias palavras) são encontradas em menos da metade dos casos.
  5. Estima-se que um terço dos pacientes apresente remissão completa ao final da adolescência, outro apresente melhora dos tiques e o restante continue sintomático durante a vida adulta. Remissões espontâneas foram relatadas em 3% a 5% dos casos.

Diagnóstico e tratamentos

De acordo com a ASTOC ST, o tratamento consiste em duas abordagens associadas: tratamento psicossocial e farmacológico, sendo necessária uma avaliação dos tiques quanto à localização, frequência, intensidade, complexidade e interferência na vida diária.

O tratamento farmacológico é utilizado para alívio e controle dos sintomas, sendo necessário a avaliação criteriosa quanto à necessidade de medicação, pois esta pode apresentar uma série de efeitos colaterais. Os medicamentos mais utilizados são os antagonistas dos receptores de dopamina.

Estimulação cerebral profunda

Nos casos de sintomas severos ou quando o paciente não responde à medicação, pode ser indicada a Terapia de Estimulação Cerebral Profunda, a DBS, que consiste em estimular eletricamente uma determinada região cerebral, por meio de um “neuroestimulador” parecido com um marca-passo.

O dispositivo é cirurgicamente implantado logo abaixo da pele, na região do tórax ou abdômen, e envia sinais elétricos, por meio de extensões, até os eletrodos previamente posicionados em uma região específica do cérebro. Todo o sistema de estimulação é implantado no subcutâneo do paciente.

Mas vale dizer que nem todo paciente é candidato à neurocirurgia de DBS e que, embora indicada e bastante difundida para o tratamento da Doença de Parkinson, no caso da Síndrome de Tourette, a DBS ainda é considerada experimental.

Assim, em relação à síndrome, a experiência com a DBS é relativamente pequena no mundo até o momento e muitas pesquisas ainda são necessárias para determinar o melhor ponto de estimulação, a frequência mais adequada e se os eletrodos devem ser unilaterais ou bilaterais. Além disso, nem todos os pacientes operados ficam livres de medicamentos.

Referências: