“De uma forma geral, os aneurismas cerebrais que mais nos preocupam são aqueles que têm a partir de 7 milímetros no maior diâmetro. Isso é mais importante quando estamos falando de aneurismas que foram identificados por acaso em um exame de rotina da cabeça, seja uma tomografia ou uma ressonância magnética”
Dr Marcelo Valadares

Estima-se que os aneurismas cerebrais estejam presentes em 1% a 6% da população, segundo a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Grande parte das pessoas com aneurisma cerebral desconhece a sua existência, pois em geral eles ficam adormecidos e são assintomáticos. A preocupação está relacionada à ruptura que causa hemorragia.

Os aneurismas são mais comuns em mulheres do que em homens, embora na faixa etária acima de 85 anos e abaixo de 40 eles sejam mais prevalentes em homens.

O que é o aneurisma

Trata-se de uma dilatação em um vaso sanguíneo que surge a partir de uma fragilidade. A maior parte dos aneurismas surge em artérias que são vasos que contêm sangue em alta pressão.

Os aneurismas não ocorrem apenas no cérebro: podem surgir também no tórax e abdome (especialmente na artéria aorta), além de outros órgãos. Por envolver uma fragilidade do vaso sanguíneo, qualquer aneurisma pode sangrar, mas sabemos que se for muito pequeno, nestas outras áreas do corpo, a chance de isso acontecer é bem menor.

Já no cérebro, onde tudo é muito delicado, mesmo o que é considerado “grande” é pequeno se comparado ao resto do nosso organismo. A maioria dos aneurismas cerebrais tem apenas alguns milímetros de diâmetro e alguns são quase impossíveis de enxergar sem um microscópio.

Ruptura dos aneurismas cerebrais

Quando falamos em risco de ruptura ou sangramento, precisamos considerar o tamanho do aneurisma cerebral e a idade do paciente. Aneurismas menores em pessoas muito jovens podem ser mais preocupantes, pois além de poderem aumentar de tamanho ao longo da vida, o risco de ruptura aumenta quando levamos em conta o tempo que a pessoa viverá com aquele aneurisma.

De uma forma geral, os aneurismas cerebrais que mais nos preocupam são aqueles que têm a partir de 7 milímetros no maior diâmetro. Isso é mais importante quando estamos falando de aneurismas que foram identificados por acaso em um exame de rotina da cabeça, seja uma tomografia ou uma ressonância magnética.

Por outro lado, qualquer aneurisma que sangrou ou que ameaça sangrar precisa ser tratado imediatamente, independentemente do seu tamanho.

Sintomas de ruptura

  • Dor de cabeça intensa, de início súbito, que atinge seu pico de intensidade quase instantaneamente. Praticamente todo aneurisma que se rompe no cérebro causa uma dor de cabeça muito forte.
  • Dor de cabeça associada à rigidez do pescoço.
  • Perda de consciência.
  • Crises epilépticas.
  • Dificuldade para falar ou compreender.
  • Dificuldade de movimentar braços e pernas.

Tratar ou não o aneurisma cerebral

É preciso conhecer cada paciente e estudar com calma seus exames para saber propor se é preciso ou não tratar um aneurisma ou se é possível acompanhar o paciente por um período apenas com exames.

Um bom médico será capaz de oferecer todas as opções e permitir que o paciente tome a melhor decisão baseada na informação disponível (clínica e científica).

Fatores a serem considerados:

  • Características individuais como idade, outras doenças (como hipertensão) e hábitos de vida do paciente (como o tabagismo).
  • Características anatômicas do aneurisma como tamanho, número de aneurismas, formatos e localizações.
  • Aneurisma pequeno, mesmo que nunca tenha rompido, em uma pessoa que teve outro aneurisma cerebral, em outro local, que já se rompeu e foi tratado, em geral precisa ser tratado também.
  • Estatisticamente, quem já teve uma hemorragia (sangramento) cerebral causada por aneurisma tem aneurismas com maior chance de sangrar.
  • Aneurismas que estão dentro do seio cavernoso são menos frequentemente tratados do que outros que estão fora, pois são mais complexos de se tratar e, mesmo que sangrem, não costumam causar tantos problemas.
  • Aneurismas da artéria carótida intracraniana (todo mundo tem duas, uma de cada lado e são as maiores do cérebro) estão submetidos a muita pressão e são mais propensos a sangramentos.

Os pacientes também precisam saber como é feito cada procedimento e como será a recuperação após o procedimento; se será necessário ou não usar medicação após o procedimento, que tipo de medicação e por quanto tempo.

Hipertensão

Como a pressão do sangue está muito relacionada ao risco de ruptura, pessoas hipertensas, em especial as que não têm a pressão bem controlada com medicação, têm maior risco de ruptura de um aneurisma cerebral.

Mas isso não quer dizer que o mesmo aneurisma (no mesmo local e do mesmo tamanho) em uma pessoa hipertensa e uma pessoa não hipertensa tem tratamento diferente. Somente um médico capacitado poderá tomar essa decisão em conjunto com seu paciente.

Riscos para quem fuma

Os vasos sanguíneos têm tecido conjuntivo na sua parede, o que permite que eles sejam firmes e resistentes à pressão. No caso das pessoas que fumam, o tecido conjuntivo tem problemas em todo organismo, ou seja, fica prejudicado devido às substâncias contidas no tabaco que ativam um processo inflamatório em todas as células do corpo.

Assim, a incidência de aneurismas cerebrais é mais frequente em quem fuma (e muitas vezes são múltiplos aneurismas). Além disso, o tabagista tem uma chance maior de ruptura dos aneurismas.

Mas o cigarro não é apenas um vilão para as células do pulmão e para o risco de aneurismas. O tabagista também tem maior desgaste na coluna e frequentemente mais dor lombar e cervical.

Terapia endovascular

Há décadas, a medicina trata os problemas do coração com terapia endovascular, o famoso cateterismo cardíaco e angioplastia. É natural que, se o vaso sanguíneo tem um problema, você possa resolvê-lo por dentro do vaso sanguíneo, que é como uma avenida onde trafegam células e sangue.

Assim, à medida que a tecnologia se desenvolveu surgiram cateteres cada vez mais finos capazes de chegar aos pequenos vasos do cérebro, difundindo-se o tratamento endovascular dos aneurismas cerebrais.

A terapia endovascular dos aneurismas cerebrais têm um potencial revolucionário por ser mais prática. O procedimento, que não deixa de ser uma cirurgia, leva menos horas que a cirurgia de clipagem e a internação hospitalar pode ser mais breve.

Atualmente, para boa parte dos aneurismas cerebrais, recomendamos o tratamento endovascular, desde que realizado por um profissional com bastante experiência.

Mas vale notar que:

  1. Nem todo aneurisma pode ser efetivamente tratado por via endovascular. Talvez essa seja uma limitação que o tempo vá fazer desaparecer à medida que a tecnologia desenvolver produtos menores e mais eficazes. Mas ainda existem aneurismas que, embora possam ser obstruídos por via endovascular, com o tempo formam-se novamente.
  2. Existem também aneurismas cerebrais que são tão complexos e em locais de tão difícil acesso que não existe ainda um cateter ou stent (pequeno dispositivo metálico) que possa obstruí-los.
  3. Outros aneurismas, mesmo podendo ser tratados por via endovascular, demandariam procedimentos repetidos e colocação de diversos tipos de stent. Nestes casos, a cirurgia de clipagem se torna preferível, mais simples e objetiva e com menor risco.

O ideal é que o médico seja capaz de recomendar qual tratamento é melhor para o seu caso, pois nem tudo é tratado sempre da mesma forma. Lembre-se que cada paciente é diferente e não existe tratamento livre de risco.

A ilustração mostra técnicas de intervenção no aneurisma.

Da esquerda para a direita: na primeira figura, um stent reconstrói a via de passagem de sangue, excluindo a parede do aneurisma.

A segunda figura mostra um aneurisma obstruído por pequenos dispositivos metálicos, chamados na neurologia de “molas”. Elas “entopem” o seu interior e causam a trombose do aneurisma, fechando o mesmo e diminuindo a chance de sangramento. Às vezes é preciso combinar stents e molas em um mesmo aneurisma.

Já a terceira figura demonstra a cirurgia de clipagem com a colocação de um clipe metálico na base do aneurisma, excluindo-o definitivamente da circulação sanguínea.

Referências: