“É importante que o paciente explique ao médico o sintoma da dor, descrevendo a intensidade e característica ao longo do dia, onde ela surge e como ela se propaga”
Dr Marcelo Valadares

De acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dor na lombar é um problema de saúde muito comum em todo o mundo e uma das principais causas de incapacidade do ser humano, afetando o desempenho das pessoas no trabalho e seu bem-estar geral.

Manifestada na parte inferior da coluna vertebral, a dor lombar também é identificada como lombalgia e pode ser aguda, subaguda ou crônica, dependendo do tempo de duração.

Classificação quanto à duração:

  • Aguda: inferior a 6 semanas
  • Subaguda: de 6 a 12 semanas
  • Crônica: superior a 3 meses

Vale dizer que qualquer dor que não desaparece com ou sem tratamento em até três meses passa a ser considerada dor crônica. E essa dor pode causar alterações no sistema nervoso que modificam a percepção que a pessoa tem da própria dor e, em alguns casos, ela pode até persistir mesmo após a retirada da causa.

A dor na lombar também é classificada como específica e não específica. A primeira tem sintomas causados por patologias diagnosticadas como hérnia de disco com comprometimento da raiz nervosa, distúrbio inflamatório, infecções, osteoporose, artrite reumatoide, fratura ou tumor.

Já a dor lombar não específica envolve sintomas sem causa claramente definida e acomete 90% dos pacientes com lombalgia, segundo publicação da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).

Dor na lombar e envelhecimento

Para entendermos a importância do tema, no Brasil, em 2007, a dor na lombar foi a primeira causa de invalidez entre as aposentadorias previdenciárias e acidentárias, com prevalência superior a 50% em um ano.

Em geral, adultos após 30-40 anos e idosos queixam-se mais de lombalgia, pois ela também está relacionada ao envelhecimento.

Tudo em nosso organismo envelhece com o passar dos anos: nossa pele enruga, nosso cabelo fica branco e todos os ossos, articulações, ligamentos e músculos da coluna envelhecem e enfraquecem.

E à medida que a coluna envelhece surgem mais inflamações nas articulações, sobrecarga por fraqueza muscular e fragilidades nos discos intervertebrais que podem levar à formação de hérnias.

Após os 40 anos é mais comum que tenhamos problemas que podem se tornar crônicos, pois estão associados a alterações estruturais da coluna, ao descuido com o corpo ao longo da vida ou apenas ao envelhecimento normal do organismo.

Entretanto, a dor na lombar não é exclusiva de idosos ou trabalhadores que carregam peso, por exemplo. Qualquer pessoa, incluindo crianças e adolescentes, pode ter dor nas costas, em especial na lombar que é o local de maior sustentação de peso da coluna.

Embora nas crianças a lombalgia seja considera rara, é motivo de preocupação, pois pode estar relacionada à algum trauma local, alteração no nascimento que desencadeie a dor ou algum problema mais sério.

Causas da lombalgia

Além do envelhecimento, existem outras causas desse tipo de dor nas costas. A dor na região lombar, em especial aquela que surgiu há pouco tempo (em questão de horas ou dias), está muitas vezes relacionada com problemas musculares. A menos que o paciente tenha caído, batido as costas ou se envolvido em algum acidente, provavelmente não há por que se preocupar.

Mas é preciso ficar atento a possíveis causas mais complexas e preocupantes: quando a dor na lombar não desaparece com analgésicos simples ou com um pouco de repouso; quando as dores são tão fortes que impedem o paciente de andar ou ficar de pé; ou quando são acompanhadas de alteração neurológicas, como formigamentos, fraqueza ou alterações de sensibilidade ou ainda quando a pessoa além de dor tem febre.

Além disso, não são apenas os problemas das costas que fazem doer a região. Problemas abdominais podem refletir em dor nas costas, pois na lombar e no abdome passam nervos, vasos sanguíneos, todo o estômago e intestino. Assim, doenças intestinais, inflamações, doenças do sangue e do coração também podem causar dor na região lombar.

Outro fator de risco é o sedentarismo e a obesidade, pois qualquer situação que enfraqueça ou sobrecarregue a coluna pode causar dor. O excesso de peso leva ao aumento total da carga sobre toda a coluna fazendo com que as estruturas dos músculos aos discos intervertebrais sofram.

Ser sedentário causa enfraquecimento dos músculos, assim músculos fracos fazem com que o peso corporal fique mais concentrado sobre os discos intervertebrais, ossos e ligamentos, facilitando o desgaste destes.

Mas não é só a falta de exercícios que pode prejudicar o corpo. Se feitas em excesso e de forma inadequada, as atividades físicas podem causar lesões em qualquer área da coluna.

Os exercícios físicos envolvem esforços intensos tanto em carga quanto em amplitude de movimento, por isso, devem ser planejados para ter intensidade compatível com a capacidade, amplitude e número de repetições para os quais a pessoa esteja preparada. A quantidade e a sua duração também devem ser planejadas com cuidado, de acordo com o preparo físico do indivíduo.

Outra causa comum da lombalgia são os erros de postura que podem gerar compressões sobre áreas que não são preparadas para sofrer carga por tanto tempo.

Sentindo a dor na lombar

Dependendo da sua origem, a dor lombar é manifestada de diferentes formas, variando as sensações, o local do incômodo e como a dor irradia para outras partes do corpo. Veja em detalhes:

1. Síndrome Facetária lombar:

  • Quando há dor à rotação, torção ou extensão da coluna.
  • Pode estar associada a um trauma ou movimento intenso e repentino.
  • A dor é principalmente ao redor da coluna e pode irradiar até as coxas, mas raramente abaixo do joelho.
  • Pode haver dificuldade na realização dos movimentos (como se houvesse rigidez).
  • O problema está nas articulações posteriores da coluna podendo ser causado por traumatismo ou artrose levando à inflamação e algumas vezes ao aumento da mobilidade da articulação.
  • O exame neurológico é normal.

2. Síndrome Sacro-Ilíaca:

  • Há dor sobre o sacro (osso base da coluna vertebral) e na articulação deste com o ilíaco (osso da bacia).
  • Quando forçada, a bacia desencadeia dor local.
  • Essa dor pode ou não irradiar também para as pernas.
  • O exame neurológico é sempre normal.

3. Dor miofascial

  • A distribuição da dor varia e pode ser ao longo de toda região dorsal e não apenas lombar.
  • Os locais de maior dor são precisamente apontados pelo paciente e a compressão do local desencadeia a dor típica.

4. Radiculopatia

  • Além da dor na região lombar, a dor irradia para as pernas.
  • É frequente que esta irradiação em algum momento vá abaixo do joelho, atingindo a panturrilha e até mesmo o pé.
  • Sua característica é de choque, queimação ou pontada.
  • Pode haver alteração de sensibilidade na pele e não há uma outra causa neurológica que a explique.
  • Pode ainda haver fraqueza nas pernas e/ ou pés.
  • A origem do problema está relacionada à compressão das raízes dos nervos que inervam as pernas, como por exemplo por uma hérnia de disco.

5. Estiramento muscular:

  • Dor difusa na região lombar podendo acometer os dois lados.
  • Normalmente há uma história de lesão muscular recente como em um exercício físico ou acidente.
  • Todo o exame físico é normal.

A maior parte das lombalgias que vêm e vão sem grandes complicações é causada pelos estiramentos musculares ou postura inadequada, que são comuns em jovens.

Quando procurar o médico

  • Quando a dor durar mais que alguns poucos dias e não desaparecer com um analgésico simples.
  • Se houver dor e febre (buscar o pronto atendimento).
  • Caso a pessoa tenha sofrido um acidente e tenha dor forte (buscar imediatamente o pronto atendimento).
  • Dores que atrapalham mesmo que levemente a rotina ou dores que não despareceram após alguns dias merecem a consulta com um médico especialista em dor.

É importante que o paciente explique ao médico o sintoma da dor descrevendo a intensidade e característica ao longo do dia, onde ela surge e como ela se propaga.

Também é relevante relatar se já foi feito algum tratamento prévio, qual foi o procedimento e o resultado obtido, além de informar sobre a sua saúde em geral e demais problemas que possa ter.

Como tratar a dor na lombar

Muitos problemas da coluna que causam dor podem melhorar sem cirurgia. Se o problema for momentâneo, como um estiramento muscular, apenas as medicações e repouso podem ser suficientes. Se for uma lesão ou inflamação, fisioterapia e infiltrações de medicação ajudam a corrigir e aliviar a dor até que o organismo se reestabeleça.

Já as cirurgias são utilizadas em situações em que há um problema muito sério que possa levar a uma lesão permanente se não for corrigido imediatamente ou quando existir alteração anatômica que precise de remoção ou correção estrutural, algo que os remédios e demais tratamentos ainda não permitem.

Boa parte dessas cirurgias demandam internações rápidas de poucas horas e riscos bem menores do que há alguns anos.

O neurocirurgião é o médico capacitado para lidar com todos os problemas da coluna lombar e tem em seu arsenal de tratamento todas as opções, desde as mais simples até os tratamentos mais complexos e modernos.

Poderão ser realizados tratamentos de infiltrações e bloqueios intervencionistas, cirurgias simples por vídeo, menos invasivas ou cirurgias complexas de deformidades. Outro tratamento mais complexo é a neuroestimulação de nervos e da medula.

Também cabe ao neurocirurgião orientar quanto à reabilitação, orientações posturais ou medicamentos para dor.

Referências: