“Estudos das últimas décadas mostraram que o excesso de peso pode afetar diretamente o alinhamento da coluna” 
Dr. Marcelo Valadares

Seis em cada 10 brasileiros apresentam excesso de peso, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde. Neste universo, os obesos graves, em especial, também sofrem com dores causadas por danos a sua coluna vertebral.

São cerca de 96 milhões de pessoas com sobrepeso ou obesidade no país, sendo que 29,5% das mulheres têm obesidade enquanto 21,8% dos homens são obesos.

Definição de obesidade

A obesidade é diagnosticada quando o Índice de Massa Corporal (IMC) de uma pessoa é superior a 29,9 kg/m2. Para se calcular o IMC, divide-se o peso (em Kg) do paciente pela sua altura (em metros) elevada ao quadrado.

Ainda de acordo com o IMC, a obesidade pode ser classificada em graus: leve, moderada ou grave. O tratamento clínico e cirúrgico também leva em conta essas classificações.

  • Obesidade leve (classe 1 – IMC 30 a 34,9 kg/m2)
  • Obesidade moderada (classe 2 – IMC 35 a 39,9 kg/m2)
  • Obesidade grave ou mórbida (classe 3 – IMC ≥ 40 kg/m2)

Obesidade e coluna

Estudos das últimas décadas, realizados principalmente em países com altos índices de obesidade, como é o caso dos Estados Unidos, mostraram que o excesso de peso pode afetar diretamente o alinhamento da coluna.

A obesidade grave também é facilmente associada às complicações articulares em pés, joelhos e quadril, regiões que sustentam o peso de nosso corpo.  Entretanto, pouco se fala, atualmente, sobre os possíveis danos para a coluna vertebral. O abdômen volumoso, em especial, desloca o eixo do corpo para frente.

A coluna vertebral é desenhada com curvaturas que permitem a distribuição equilibrada da massa corporal em relação ao esqueleto e à gravidade. Em uma pessoa muito obesa, esse equilíbrio se perde, e os mecanismos compensatórios – que mantêm uma pessoa de pé – vêm do trabalho dos músculos que vão tracionar (e isso é inconsciente e/ou automático) a coluna para tentar mantê-la na posição correta, causando maior fadiga muscular. A fadiga muscular leva à dor.

Os discos intervertebrais – pequenos “colchões” entre as vértebras – sofrem com pressão enquanto a pessoa está de pé, principalmente, e se desgastam. A medida em que se desgasta, um disco pode se romper e levar à formação de hérnias, famosas causadoras de ciáticas com quadros dolorosos intensos, podendo levar, até mesmo, à necessidade de uma cirurgia.

Já no caso de uma pessoa com sobrepeso, este também pode ter ligação com a dor lombar, mas de uma forma menos pronunciada. Certamente não existem tantas alterações físicas neste caso, em especial do alinhamento corporal, nem as complicações causadas por outras doenças clínicas. A correlação com a falta de preparo físico, que é mais comum neste grupo, está ligada à dor lombar do que o próprio peso.

Tratamentos da coluna

O tratamento indicado para pessoas obesas com lesões de coluna é muito parecido com o de pessoas não obesas. O importante é saber se existem outras doenças associadas ou limitações clínicas que demandem cuidados extras no processo de reabilitação. Talvez o paciente tenha dificuldade e o processo de recuperação leve mais tempo que o normal. Se o paciente precisar de cirurgia, há um risco mais elevado de alguns tipos de complicações se comparado a uma pessoa não obesa.

Existem diversos tipos de cirurgias que podem ser feitas para problemas na coluna, desde procedimentos muito pequenos até grandes reconstruções. Se tratadas, as doenças da coluna deixarão de ter um impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes. Um neurocirurgião pode recomendar tanto cirurgias tradicionais de coluna quanto procedimentos menos invasivos, a exemplo de bloqueios ou a cirurgia endoscópica da coluna vertebral.

Além de danos à coluna, a obesidade também é fator de risco para outras doenças e condições, como artrite, artrose, aumento de triglicérides e do colesterol, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, cálculo biliar (pedra na vesícula), refluxo esofágico, tumores de intestino e de vesícula.

Outro aspecto importante a se considerar é o impacto na qualidade de vida. Conforme demonstrou um estudo da University College London (UCL), na Inglaterra, a obesidade na vida adulta também está associada a um risco maior de dificuldade física funcional, ou seja, o obeso apresenta dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia, como carregar sacolas de compras, subir escadas e pegar uma criança pequena no colo, por exemplo.

Referências: