“Boa parte dos tumores cerebrais, em especial os malignos, vão necessitar em algum Valadares momento de cirurgia, radioterapia e quimioterapia”
Dr Marcelo Valadares
Os tumores do sistema nervoso central, área do corpo humano formada pelo cérebro e pela medula espinhal, devem-se ao crescimento de células anormais nos tecidos dessas localizações. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 88% dos tumores de sistema nervoso central são no cérebro.
O tumor cerebral pode ser benigno ou maligno, sendo que a maior parte dos tumores que se desenvolvem no cérebro são benignos e o meningeoma (veja abaixo) é o tipo de tumor cerebral mais frequente.
Tumor cerebral benigno
- Não é um câncer, ou seja, não é capaz de invadir os tecidos cerebrais normais e destruí-los e ele também não produz metástases que são células enviadas à distância que podem fazer o tumor surgir em outros órgãos.
- Frequentemente pode ser tratado com cirurgia.
- Mesmo um tumor benigno pode crescer em um local demasiadamente complexo impedindo sua remoção ou, ainda, pode comprimir tecidos e vasos podendo levar a problemas graves.
- Tumor cerebral maligno
- Possui mutações em suas células que fazem com que elas não apenas comprimam as células normais do cérebro, mas também invadam e destruam os tecidos cerebrais.
- Suas células crescem de forma desordenada, muitas vezes acelerada e têm uma tendência a acumular mutações ao longo do seu desenvolvimento que podem levar a um comportamento cada vez mais agressivo.
- Os principais tumores malignos no cérebro são os gliomas que crescem a partir de diversos tipos celulares chamados, em conjunto, de glia.
Vale dizer que a glia é formada por células que dão sustentação, nutrição, defesa, entre outras funções, aos neurônios e também, por isso, estes tumores são chamados de primários (que surgiram do próprio cérebro). Alguns tumores que podem se desenvolver no cérebro surgem primeiro em outros órgãos que disseminam as células tumorais a distância. Estes são chamados de metástases.
Portanto, o tumor cerebral pode ser primário, quando as células anormais se originam do próprio sistema nervoso, ou secundário (metástase), quando as células anormais do tumor no cérebro surgem a partir de outro órgão com câncer, como pulmão, rins, intestino ou mama.
Tumores cerebrais primários
Meningeoma: nasce de células da membrana aracnoide (uma das três membranas que formam as meninges). Frequentemente são benignos e mais comuns em adultos e idosos (mais em mulheres que em homens).
Glioblastoma: mais agressivo, pode surgir em jovens, adultos ou idosos. Alguns tipos de glioblastomas se desenvolvem a partir de tumores menos agressivos como astrocitomas e oligodentrogliomas.
Astrocitomas e oligodendrogliomas: surgem a partir das células da glia e podem ser mais ou menos agressivos, variando seu grau de acordo com as mutações em suas células.
Quando astrocitomas e oligodendrogliomas são classificados como Grau 4 são chamados de glioblastomas e não mais por seus nomes originais. Não existe Oligodendroglioma Grau 1.
Astrocitomas
- Astrocitoma Grau 1 (Astrocitoma pilocítico)
- Astrocitoma Grau 2 (Astrocitoma difuso)
- Astrocitoma Grau 3 (Astrocitoma anaplásico)
- Glioblastoma
Oligodendrogliomas
- Oligodendroglioma Grau 2
- Oligodendroglioma Grau 3 (Oligodendroglioma anaplasico)
- Glioblastoma
Metástases e gliomas de alto grau (Grau 3 e Grau 4) são mais agressivos. Um tumor cerebral é considerado agressivo pela velocidade de multiplicação de suas células, pela capacidade de destruir células normais ao redor e pela resistência aos tratamentos.
Meduloblastoma: é o tipo de tumor cerebral mais comum em crianças, atinge o cerebelo e pode ter boa resposta ao tratamento.
Adenoma de hipófise: é caracterizado pelo acometimento da glândula que se encontra na base do cérebro, a adeno-hipófise.
Principais tratamentos
Boa parte dos tumores cerebrais, em especial os malignos, vão necessitar em algum momento de cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Além disso, o paciente também poderá precisar de acompanhamento psicológico e fisioterapia. Os principais tratamentos são:
1. Cirurgia para a remoção do tumor
É possível a remoção total em muitos casos de tumores benignos e metástases, mas em gliomas, às vezes isso não é possível.
No caso de gliomas, considera-se a remoção máxima possível, que é equivalente a remover todo o tumor que se pode identificar sem que haja comprometimento de funções cerebrais normais.
Muitos gliomas têm uma porção visível e uma porção que se infiltra em meio ao tecido normal e que se fosse removida poderia levar a prejuízo de funções cerebrais que estão perfeitas.
2. Radioterapia ou radiocirurgia
O tratamento envolve o uso de radiação ionizante para levar à interrupção do crescimento ou mesmo destruição de células tumorais.
A radiação causa lesão que leva à morte celular, principalmente no DNA do tumor que está multiplicando. Por isso, tende a ser mais eficaz nas células que se dividem mais rapidamente, o que em geral acontece em tumores mais agressivos. Raramente, a radioterapia também é útil em tumores benignos.
3. Quimioterapia, imunoterapia e outros agentes
São agentes tomados por via oral ou fornecidos por via venosa que se ligam às células tumorais levando à morte das mesas ou ainda que estimulam células imunológicas a atacar os tumores destruindo-os.
Avanços importantes da Neurocirurgia
Nos últimos 40 anos, a Neurocirurgia tem atuado para remover totalmente e com precisão um tumor (ou a maior quantidade possível dele), sem remover áreas importantes do cérebro, por meio dos seguintes procedimentos:
1. Microcirurgia: utiliza um poderoso microscópio que permite identificar estruturas extremamente delicadas removendo o que é indesejado sem causar prejuízo àquilo que é importante.
2. Neuronavegação e tractografia: técnicas que utilizam um computador para guiar a ressecção (remoção) de tumores com precisão, localizando perfeitamente a relação de um tumor com tractos (“grandes rodovias” de neurônios que ligam áreas diferentes do cérebro) e demais estruturas que não devem ser removidas.
3. Cirurgia com despertar intraoperatório (craniotomia awake): junto à monitorização eletrofisiológica intraoperatória, permite mapear o cérebro durante a cirurgia para áreas que são importantes para os movimentos, sensibilidade, fala ou habilidades (como tocar um instrumento musical). O mais usado é para área da fala onde somente o paciente acordado pode falar durante o mapeamento desta região.
4. Fluorescência intraoperatória: é aplicada uma injeção de um fármaco conhecido como 5-ALA na circulação sanguínea. O procedimento permite que, por meio de uma luz especial no microscópio neurocirúrgico, células cancerígenas tão pequenas que outrora não seriam visíveis sejam identificadas e removidas, aumentando o grau de ressecção.
5. Ressonância magnética intraoperatória: a presença da ressonância dentro ou anexa à sala cirúrgica, disponível em alguns centros, permite que após a ressecção (remoção) do tumor considerada adequada pelo cirurgião, o paciente, durante o ato cirúrgico, faça uma nova ressonância para que seja avaliada a existência de algum resquício tumoral não identificado e que precise ser removido.
Referências: