“A cirurgia existe há mais de três décadas e está sendo cada vez mais aperfeiçoada, sendo um grande salto tecnológico da Medicina”
Dr Marcelo Valadares
Uma tecnologia importante da Neurocirurgia Funcional para pacientes que sofrem com transtornos do movimento é a Terapia de Estimulação Cerebral Profunda, a DBS (sigla em inglês para Deep Brain Stimulation).
A descoberta de que a estimulação de estruturas cerebrais profundas durante a cirurgia poderia interromper os sintomas de tremor da Doença de Parkinson ou outros distúrbios do movimento aconteceu em 1987.
A cirurgia existe há mais de três décadas e está sendo cada vez mais aperfeiçoada, sendo um grande salto tecnológico da Medicina e uma esperança de qualidade de vida para pacientes que sofrem com tremores, rigidez e lentidão dos movimentos.
Indicações para DBS
Além da Doença de Parkinson, a Terapia de Estimulação Cerebral Profunda pode ser indicada como tratamento para distonia, tremor essencial (condição neurológica que causa um tremor rítmico nas mãos, cabeça, voz, pernas ou tronco), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e epilepsias – sempre em situações em que não há resposta do paciente a medicamentos e outras terapias.
Vale dizer que nem todo paciente é candidato à neurocirurgia de DBS. É necessário que a pessoa tenha uma boa saúde e que as suas funções cognitivas estejam preservadas.
Além disso, o histórico de tratamentos já realizados pelo paciente também é fator determinante a ser avaliado pelo neurocirurgião. No caso da Doença de Parkinson, é preciso que os pacientes atendam a alguns critérios, como ter a certeza de que possui a forma mais clássica da patologia; não ter mais de 75 anos; não possuir comorbidades graves e, em algum momento da vida, ter apresentado uma boa resposta a medicamentos para a Doença de Parkinson, como à levodopa. Para esta condição, a estimulação busca atuar principalmente no corpo estriado que envolve vários núcleos que regulam os movimentos.
Quanto à epilepsia, a DBS pode ser indicada para casos de difícil controle medicamentoso onde uma neurocirurgia de ressecção não é factível ou já foi realizada sem controle adequado de crises.
A DBS também é o principal tratamento cirúrgico para distonia. Neste caso, o estimulador entrega impulsos elétricos as áreas do cérebro responsáveis por causar os sintomas de distonia (uma das porções dos gânglios da base).
Neurocirurgia e tecnologia
A DBS é uma modalidade de tratamento que consiste em estimular eletricamente uma determinada região cerebral, por meio de um “neuroestimulador” parecido com um marca-passo, que é cirurgicamente implantado logo abaixo da pele, na região do tórax ou abdômen. O dispositivo envia sinais elétricos, por meio de extensões, até os eletrodos previamente posicionados em uma região específica do cérebro.
A estimulação pode ser ajustada periodicamente por meio de um controle remoto de forma a atingir configurações adequadas para cada paciente.
Figura ilustra os componentes envolvidos na terapia DBS
Fonte: American Association of Neurological Surgeons
A Terapia de Estimulação Cerebral Profunda pode ser indicada para adultos e crianças, de acordo com as características da doença, sendo considerada uma evolução de técnicas anteriores, hoje menos comuns e com indicações mais reservadas (como a talamotomia estereotáxica, palidotomia e rizotomia cervical), devido ao seu maior índice de sucesso e menor taxa de efeitos colaterais.
Pós-operatório
Na maior parte das vezes, o pós-operatório é muito tranquilo. Se não houver intercorrências ou o paciente não tiver algum problema de saúde, após a cirurgia, ele vai para o quarto e não para a UTI.
Após o procedimento cirúrgico, o paciente irá descansar, fará exames e em cerca de um a dois dias poderá ir para casa. É preciso tomar cuidados com curativos e cicatrizes cirúrgicas para que não haja nenhum risco de infecção.
Toda neurocirurgia no mundo vai ter algum risco envolvido. Mas hoje em dia, com os recursos que temos e os cuidados pré-operatórios envolvidos, os riscos são baixos e, na maioria das vezes, a cirurgia de implante de DBS, quando bem realizada, é extremamente segura.
Referências: