“Dor é uma queixa comum em pessoas com Doença de Parkinson”
Dr Marcelo Valadares
A Doença de Parkinson ainda não tem cura, mas a medicina trabalha em busca de tratamentos para estabilizar ou diminuir a velocidade da piora dos seus sintomas. Antigamente, a doença era chamada de mal de Parkinson, mas o termo caiu em desuso por médicos e pacientes.
Cerca de 6,3 milhões de pessoas no mundo apresentam a doença. Embora pessoas de até 40 anos possam ser acometidas, ela é mais comum após os 60 anos.
Sabemos também que os homens são mais propensos a desenvolver a Doença de Parkinson: para cada duas mulheres com o problema, três homens são acometidos.
O que é a Doença de Parkinson
Há mais de 200 anos, ela foi descrita pelo médico inglês James Parkinson, que a denominou Paralisia Trêmula (em inglês, Shaking Palsy), mas só após 70 anos a doença levou o seu sobrenome.
A Doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa que tem origem na perda de neurônios em um núcleo bem específico do cérebro chamado Substância Negra (região onde os neurônios possuem um pigmento de cor muito escura, a neuromelanina).
Esses neurônios são de um tipo muito específico que produz um neurotransmissor chamado dopamina. Assim, no Parkinson, os pacientes têm esses neurônios comprometidos, deixando de produzir a dopamina.
Os movimentos são afetados porque é justamente a dopamina que ativa uma área do cérebro conhecida como corpo estriado, que é uma das portas de entrada de um dos principais centros reguladores dos movimentos do corpo: os núcleos da base.
Diagnóstico
Hoje os médicos são muito criteriosos para estabelecer o diagnóstico da Doença de Parkinson. Um dos principais fatores que levamos em conta é o tempo desde o início dos sintomas.
Isso é importante, pois outras doenças possuem sintomas parecidos (como tremor ou rigidez) e acometem áreas ou redes de conexão de neurônios que também são afetadas na Doença de Parkinson. É o caso de tumores cerebrais, alterações vasculares, demências e efeito do uso de algumas medicações.
Tipo de Parkinson
Sabemos atualmente que existe uma forma mais precoce da doença que afeta pessoas mais jovens e progride lentamente. Muitas vezes, essa forma tem forte relação com a genética.
É importante dizer que qualquer pessoa, ao longo da vida, tem 2% de chance de desenvolver a Doença de Parkinson e se alguém na família já tem a doença, o risco pode chegar a 4%.
Sabemos também que a doença, quando afeta pessoas mais idosas, pode progredir de uma forma mais rápida.
Outra diferenciação está nos sintomas: enquanto alguns pacientes têm muito tremor e pouca rigidez, outros apresentam o contrário.
Doença de Parkinson e a dor
A dor é uma queixa comum em pessoas com a doença e vale dizer que alguns pacientes apresentam dor antes do início dos sintomas motores, principalmente dores nos ombros.
A maior causa de dor nos ombros (ou nos quadris e membros) são problemas articulares e de ligamentos, o que pode gerar dificuldade na interpretação se a dor se deve a algo que o paciente já teria ou se é causado pela doença.
Geralmente, a dor relacionada ao Parkinson melhora com o tratamento da doença degenerativa e não apenas com analgésicos, permitindo maior clareza no seu diagnóstico.
Os pacientes também podem sentir cãibras, especialmente ao caminhar, ou queimações nos ombros, além de formigamentos que incomodam bastante.
Principais sintomas e consequências
Às vezes, os problemas não-motores, ou seja, que não são ligados aos movimentos, surgem antes mesmo das alterações dos movimentos e pioram ao longo da evolução da doença. As alterações de personalidade são um dos sintomas mais importantes.
Depressão, ansiedade, perda da capacidade de decisão e passividade são comuns e, dependendo da atividade que a pessoa exerce, podem tornar impossível o paciente trabalhar.
A dependência e a perda da motivação podem causar dificuldades para o parceiro(a) do paciente que normalmente também desenvolve o papel de cuidador.
Geralmente, os pacientes perdem o prazer e a vontade de socializar, de ir a eventos, seja pelas dificuldades inerentes a sua doença ou pela perda de motivação.
Nesse contexto, o médico é fundamental para reconhecer que existe uma alteração de personalidade ou transtorno mental depressivo ou ansioso e encaminhar o tratamento correto, como medicação, terapia ou orientação.
Ao familiar do paciente, compete reportar os sintomas, auxiliar no tratamento e compreender as diversas esferas envolvidas em uma doença complexa.
A Doença de Parkinson também é considerada um transtorno ou distúrbio do movimento, mas nem todas as pessoas irão sentir os mesmos sintomas e desenvolver um tremor.
Sintomas motores
_ Bradicinesia (lentidão de movimento)
_ Congelamento (sensação de que seus pés estão grudados no chão e dificuldade para começar um movimento)
_ Dificuldades com a marcha (forma de caminhar a pé) e o equilíbrio
_ Dificuldades para comer, engolir e controlar a saliva
_ Distonia (quando os músculos não relaxam depois de terem sido apertados ou encurtados)
_ Problemas oculares
_ Rigidez (músculos rígidos ou inflexíveis)
_ Síndrome das pernas inquietas (distúrbio de movimento caracterizado por uma irresistível urgência de mover as pernas)
_ Tremor (movimento rítmico e involuntário que afeta uma parte do corpo)
Sintomas não-motores
_ Alterações de personalidade
_ Ansiedade
_ Depressão
_ Dor
_ Fadiga
_ Passividade
_ Perda da capacidade de decisão
_ Perda da motivação
Tratamentos medicamentosos
O campo de estudo dos transtornos do movimento, em especial da Doença de Parkinson, é um dos mais fascinantes e promissores da Neurologia. Apenas em uma base de dados sobre pesquisa clínica, na ClinicalTrials.gov, existem mais de 650 estudos clínicos em andamento que buscam novas ferramentas diagnósticas e tratamentos para o Parkinson ao redor do mundo.
Hoje temos muitas opções de medicamento. Desde a levodopa, que revolucionou o tratamento e foi oficialmente aprovada em 1970, até classes de medicamentos para substituí-la ou serem usadas associadas a ela.
O uso de agonistas da dopamina (substâncias que ativam diretamente os receptores de dopamina) ou, ainda, de outras categorias de remédios vai depender de fatores intrínsecos a cada paciente.
Cirurgia de estimulação cerebral
A cirurgia de implante de estimulador cerebral profundo existe há mais de três décadas e está sendo cada vez mais aperfeiçoada, sendo um grande salto tecnológico da Medicina. Na Doença de Parkinson, ela busca atuar em núcleos do corpo estriado e demais núcleos da base.
Fatores para a indicação da cirurgia:
1. Diagnóstico
É preciso ter certeza de que se trata de Doença de Parkinson, por isso pacientes que acabaram de apresentar os primeiros sintomas não são ainda candidatos à cirurgia.
2. Resposta à levodopa
É importante que haja ou tenha havido em algum momento resposta ao uso da levodopa, pois os mecanismos de ação da estimulação seguem caminhos similares ao da medicação.
3. Condições físicas e cognitivas
O paciente precisa apresentar uma boa saúde em geral, ter as suas funções cognitivas preservadas e querer fazer a cirurgia.
O objetivo da cirurgia é melhorar a qualidade de vida do paciente, em especial naqueles que o uso da levodopa tenha se tornado menos efetivo ao longo dos anos, seja pela necessidade de tomar cada vez mais medicação ou cujos efeitos colaterais da medicação estejam sendo muito prejudiciais.
Atividade física e o Parkinson
As medicações ainda são a principal intervenção médica capaz de aliviar os sintomas. No entanto, muitos pacientes podem beneficiar-se da estratégia de se manter ativo e funcional. É importante estabelecer uma rotina de atividade física respeitando a capacidade do paciente, o que pode ou não envolver a fisioterapia.
O papel da fisioterapia e da fonoaudiologia para o treinamento e fortalecimento de músculos permite que o paciente tenha mais habilidade e desenvoltura para se movimentar e falar.
É necessário que o paciente aperfeiçoe sua mobilidade, a consciência corporal, para tentar suprir as limitações que o seu organismo vai impor.
Neste artigo, você aprendeu sobre o que é, os principais sintomas e tratamentos da Doença de Parkinson, que é uma condição muitas vezes confundida com outros transtornos do movimento.
Referências: