“O plano terapêutico vai sempre do tratamento mais simples e direcionado até os mais complexos e abrangentes”
Dr Marcelo Valadares

A dor crônica, aquela que dura mais que seis meses, afeta mais de dois terços da população do Brasil, segundo estudo publicado pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Em geral, os fatores de risco são ser mulher, ter idade avançada e baixos níveis de renda familiar.

Os pacientes com dor crônica são pessoas que sofrem dor forte, intensa e vivem a angústia de procurar um tratamento da dor que lhe devolva qualidade de vida.

Em primeiro lugar, é preciso trazer conforto a essas pessoas, o mais rápido possível, permitindo que o paciente retome suas atividades normais e sempre buscando, quando possível, uma resposta positiva, permanente e duradoura no alívio da dor.

A este tratamento da dor, que chamamos de plano terapêutico, existem três observações importantes a serem consideradas:

1) Alinhar expectativas e realidade

É preciso alinhar as expectativas do paciente com a possibilidade de resultado diante do problema que ele tem.

Nem todo mundo lida com a dor da mesma forma. Alguns pacientes acreditam que precisam viver com a dor e, muitas vezes, já ouviram isso de médicos. Alguns já escutaram até mesmo que não há mais o que possa ser feito por eles, ou seja, já lhes foram roubadas todas as esperanças.

O bom profissional precisa, dentro de um cenário realista, explicar ao paciente que existem, sim, opções para melhorar sua qualidade de vida, mas entender até onde o paciente está disposto a ir nessa jornada.

2) Buscar um diagnóstico

É preciso investigar qual é ou era a causa do problema que deu origem à dor. É necessário entender o mecanismo que fez surgir a dor para que, se for possível, possamos intervir na origem do problema.

Nenhuma dor é igual à outra. Mesmo uma dor lombar, aquela que ocorre na parte inferior da coluna vertebral, pode ter inúmeras origens com tratamentos diferentes. Não é possível tratar tudo da mesma forma ou com as mesmas técnicas.

Algumas dores, por outro lado, não têm cura, mas, com o tratamento da dor, podemos dar conforto e qualidade de vida a esses pacientes.

3) Analisar o que já foi feito

A grande maioria dos pacientes que procura um especialista no tratamento da dor já se consultou com um ou mais médicos, diversos profissionais de fisioterapia ou educação física. Dessa forma, quase todos esses pacientes já foram submetidos a um ou mais tratamentos.

Por isso, é preciso investigar o que já foi feito, por que e quais os resultados obtidos.

O tratamento para dor crônica é individualizado, ou seja, precisamos entender qual o objetivo para determinado tratamento proposto e em quanto tempo esperamos o resultado. E se não houver resposta satisfatória, o que faremos a seguir.

É importante compartilhar com o paciente e seus familiares o que esperar do plano terapêutico, entender a lógica envolvida e saber quais resultados e decisões precisamos tomar em conjunto.

Respeitando essas três observações, uma dor muito intensa e aguda pode precisar de um tratamento extremamente rápido para que o paciente consiga seguir com suas atividades, mas a maioria dos casos apresenta dor forte que se exacerba em alguns períodos do dia ou em alguns dias da semana.

Do mais simples ao mais complexo

Para estes casos, o plano terapêutico pode contemplar do tratamento mais simples e direcionado até os mais complexos e abrangentes.

Nós quase sempre usamos medicamentos. Sejam eles medicamentos que atuam em receptores de neurônios envolvidos no processamento da informação de dor ou, ainda, anestésicos que depositamos com agulhas em articulações, neurônios ou músculos.

Dispomos também de procedimentos intervencionistas pequenos ou grandes ou até mesmo de cirurgias. Estes tratamentos devem ser indicados pensando em um problema específico e um resultado esperado.

Assim, o tratamento da dor envolve identificar e entender o problema, compreender até onde o paciente deseja ir e quais suas expectativas (o que é bom para ele em termos de resultado) e guiar todo o tratamento da dor do mais simples ao mais complexo.

Tratamento da dor e a Neurocirurgia

O neurocirurgião é o especialista formado no tratamento do cérebro, medula, coluna e nervos (onde quer que estejam). Portanto, é o profissional capacitado para lidar com quaisquer tratamentos da dor que envolvam estas estruturas, desde o início dos sintomas.

A Neurocirurgia lida com a dor com todo o arsenal disponível:

  • Medicamentos
  • Bloqueios de nervos e infiltrações anestésicas
  • Cirurgias pouco invasivas por vídeo
  • Cirurgias percutâneas (sem a necessidade de uso de bisturi)
  • Cirurgias maiores com implantes
  • Procedimentos de neuromodulação (estimulação) cerebral ou medular.

A terapia de estimulação medular é um excelente tratamento, desde que muito bem indicada. E isso significa saber quem é candidato a receber este tratamento, pois não é para todos. Geralmente casos muito complexos e que já tentaram diversos tratamentos com muitos médicos diferentes costumam ser indicados para esse tipo de procedimento.

A estimulação medular só deve ser considerada para portadores de dor crônica. É preciso ou pelo menos desejável que a dor do paciente tenha algumas características que demonstrem acometimento de nervos ou do sistema nervoso, como as lombalgias (dores na região lombar) após cirurgias de coluna.

Por envolver implante de um pequeno dispositivo no corpo do paciente, sempre deve ser feito um teste temporário de estimulação medular, para que possamos garantir um bom resultado.

Referências: