“Os pacientes precisam ter clareza da sua condição de saúde, apoio e suporte e, se possível, o amor das pessoas que importam para eles”
Dr Marcelo Valadares

Existem diversas doenças neurodegenerativas que afetam pessoas em todo o mundo e as duas mais conhecidas são a Doença de Parkinson e a Doença de Alzheimer, embora existam muitas outras, como a Atrofia Muscular Espinhal (AME), a Doença de Huntington (DH) e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

O que todas elas têm em comum? Surgem quando os neurônios no cérebro, na medula ou nos nervos perdem função ao longo do tempo e eventualmente morrem. O risco de ser afetado por uma doença neurodegenerativa aumenta dramaticamente com a idade.

A dor é um sintoma comum a quase todas as doenças neurodegenerativas e por diversas razões. Na Doença de Parkinson, por exemplo, sabemos que dor faz parte do espectro de sintomas.

Vale dizer que em algumas doenças neurodegenerativas, especialmente em estados mais avançados, o paciente pode ser incapaz de se expressar adequadamente e não consegue sequer dizer que sente dor.

Por isso, é importante que a equipe que cuida do paciente, independentemente da especialidade médica, tenha consciência da importância de monitorar a presença da dor e tenha uma estratégia de controle do sintoma.

O controle da dor deve envolver medicações de uso contínuo, remédios fornecidos por diversas vias de acesso (caso necessário), boa prescrição de reabilitação motora e procedimentos diversos para alívio de contraturas e espasticidade.

Avanços com a genética

Embora existam tratamentos que ajudam a aliviar alguns sintomas físicos e mentais, atualmente ainda não há nenhuma forma de desacelerar a progressão da maior parte dessas doenças. Infelizmente, ainda não há cura.

Desenvolver tratamentos para essas condições é especialmente complexo, pois envolve compreender e, muitas vezes, aprender a interferir em sistemas que até pouco tempo não compreendíamos bem.

Muitas vezes, as ciências parecem caminhar lentamente, mas o processo entre ter uma ideia e demonstrar um novo tratamento que funciona envolve idas e vindas que levam muitos anos e até décadas.

Uma das principais frentes de investigação é a terapia genética e a terapia celular, em especial quando podemos intervir no começo dos sintomas ou até mesmo antes deles. A ideia aqui é modificar o DNA “defeituoso” causador da doença ou inserir material genético que possa produzir proteínas ausentes e que são responsáveis pelos sintomas.

Bons exemplos disso são os medicamentos aprovados há pouco tempo para alguns subtipos de Atrofia Muscular Espinhal (Spinraza e Zolgensma) que buscam, por meio de diferentes estratégias, inserir a informação necessária para produção de uma proteína faltante. A existência de novos tratamentos para estes casos representa uma excelente notícia.

Medicamentos como estes podem vir a ser desenvolvidos para tratar outras doenças neurodegenerativas. Mas, para a maior parte, ou não se conhece completamente o mecanismo de surgimento da doença ou muitos genes estão envolvidos. Assim, enquanto já começa a parecer possível modificar genes causadores de doença, a situação é mais complexa em doenças com múltiplas origens no DNA (poligênicas).

Neurocirurgia funcional

Principalmente no cérebro, uma outra frente de tratamento envolve entender a rede de conexões entre os neurônios. Muito temos aprendido sobre a importância de atuar sobre as conexões e redes de transmissão da informação.

Novas técnicas, em especial de estimulação cerebral, buscam estimular ou inibir essas redes para aliviar sintomas de doenças como a Doença de Parkinson e as neuropsiquiátricas.

O neurocirurgião funcional pode implantar, de forma temporária ou definitiva, eletrodos que podem enviar impulsos elétricos para a medula (buscando inibir a passagem da informação de dor) ou para o cérebro (buscando sincronizar ou ativar redes envolvidas no controle dos movimentos), como no caso da Doença de Parkinson.

As cirurgias de neuroestimulação guardam um imenso potencial terapêutico, sejam elas de estimulação medular ou de nervos periféricos, estimulação cerebral cortical ou profunda.

Quando falamos de doenças neurodegenerativas, sempre todas as terapias são testadas. Além disso, baseado no sucesso do uso do DBS para Parkinson, algo que sempre foi perseguido é o uso da neuroestimulação na Doença de Alzheimer. Mas, embora alguns resultados tenham sido promissores, DBS não é hoje uma terapia indicada ou aprovada oficialmente para esta doença.

No fim, a neuroestimulação é vista como uma possibilidade de cientistas e médicos não apenas estimularem o funcionamento dos neurônios, mas também obterem a leitura sobre como o cérebro e a medula estão funcionando e ajustar os estímulos de acordo com a necessidade do organismo. Talvez um dia, e isso ainda está um pouco distante, possamos criar aparelhos capazes de se comunicarem efetivamente com o nosso cérebro.

Empatia e informação

Uma doença neurodegenerativa demanda sempre um trabalho em conjunto do médico que faz parte da equipe multidisciplinar com familiares e cuidadores. Os pacientes precisam ter clareza da sua condição de saúde, apoio e suporte e, se possível, o amor das pessoas que importam para eles.

Também é preciso haver clareza na transmissão de informação, entendimento das expectativas e vontades do paciente e, principalmente, empatia para compreender a série de emoções envolvidas no curso de doenças como estas.

Doenças neurodegenerativas:

  • Atrofia muscular espinhal (AME): tem origem genética e se caracteriza pela atrofia muscular secundária à degeneração de neurônios motores localizados no corno anterior da medula espinhal.
  • Doença de Alzheimer: apresenta-se como demência, ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais.
  • Doença de Huntington (DH): afecção do sistema nervoso central, cujos sintomas são causados pela perda marcante de células em uma parte do cérebro denominada gânglios da base, afetando as capacidades motoras, cognitivas e psiquiátricas do paciente.
  • Doença de Parkinson: condição neurodegenerativa que tem origem na perda de neurônios em um núcleo bem específico do cérebro chamado Substância Negra (região onde os neurônios possuem um pigmento de cor muito escura, a neuromelanina).
  • Esclerose lateral amiotrófica (ELA): considerada uma doença degenerativa do sistema nervoso, que acarreta paralisia motora progressiva, irreversível e de maneira limitante.

Referências: