“Tudo isso, além do próprio sofrimento e modificações neurológicas que a dor causa, pode levar comumente à depressão e à ansiedade”
Dr Marcelo Valadares

A dor afeta, de forma significativa, as pessoas em todo o mundo. No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), a média da população brasileira que se queixa ou sofre de dor é de cerca de 30%.

Em julho de 2020 foi apresentada à comunidade científica uma nova definição atualizada de DOR, publicada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor, a International Association for the Study of Pain (IASP): a dor é “uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”.

Portanto, a dor é uma percepção sensorial (algo que sentimos) e emocional desagradável de que algo está errado ou algo aconteceu.

E cada pessoa sente a dor de forma diferente, pois a dor não se resume a um sinal neurológico: ela é processada pelo cérebro e a sua interpretação depende das experiências prévias, emoções e até mesmo da cultura de cada pessoa.

Embora a função da dor seja nos proteger, como ao tocarmos com a mão em uma panela quente, sentir dor de uma forma contínua ou por longos períodos pode causar consequências negativas em nosso corpo, nas nossas emoções e nas nossas relações sociais.

Podemos diferenciar a dor entre duas classificações: aguda e crônica.

Dor aguda

Ela acontece quando algo machuca a pessoa, seja internamente no seu corpo ou externamente. Embora seja um sintoma de que algo está errado, nem sempre a dor aguda é sinal de um problema grave, pois ela desaparece quando a sua causa não está mais presente.

As causas mais comuns de dor aguda são as dores de cabeça, cólicas, cãibras musculares, cortes superficiais, fraturas de ossos após um acidente e dor de estômago por epigastralgia (dor localizada na região superior e média do abdome).

Segundo a IASP, cirurgias, queimaduras, mucosite oral em radioterapia e quimioterapia, parto, cólica menstrual e dores de dente também causam dor aguda.

Dor crônica

Um estudo publicado pela SBED, em 2018, concluiu que a dor crônica afeta mais de dois terços da população do Brasil.

A dor crônica dura mais que seis meses, mesmo que o paciente não a sinta durante todo o dia. Ela é causada por situações que não são facilmente resolvidas e, diferentemente da dor aguda, pode não melhorar mesmo após a lesão ou doença causadora ter sido resolvida. Isso porque está relacionada a modificações no cérebro e vias de dor.

Causas da dor crônica

  • As causas mais comuns e frequentes de dor crônica são:
  • Artrose (desgaste articular)
  • Artrite (doença que leva à inflamação das articulações)
  • Dores de cabeça
  • Dores nas costas
  • Fibromialgia (condição que pode afetar até duas em cada 100 pessoas e pode causar dor em todo o corpo sem uma causa aparente).
  • Lesões repetitivas de articulações, músculos, ligamentos ou tendões em pessoas que fazem atividade física

Além disso, também é muito comum que pessoas que fizeram cirurgias, especialmente cirurgias de coluna, apresentem dor crônica no local operado.

Como nem todas as causas de dor têm relação com ser jovem ou idoso, não existe uma idade certa para que a pessoa possa apresentar dor crônica, embora seja mais comum que adultos após os 40 anos (pelo tempo de vida que tiveram e pelo desgaste normal que o corpo sofre) tenham dor mais frequentemente que os jovens.

No geral, a população mais afetada pela dor crônica são as pessoas acima dos 60 anos, pois, além do desgaste natural do corpo, já apresentam doenças relacionadas ao envelhecimento, como as artroses e a osteoporose.

Um estudo publicado em 2020 pela revista científica Brazilian Journal Of Pain (BrJP), realizado com 125 idosos residentes em instituições de longa permanência, concluiu que os fatores relacionados à dor crônica nesse público foram: doença reumática, lombalgia (dor na região lombar), uso de polifarmácia (cinco ou mais fármacos) e dependência para realizar as atividades básicas de vida diária.

Consequências da dor intensa

É importante saber que pacientes com dor intensa (uma dor forte), durante a maior parte do dia, não estudam, não trabalham direito e não se concentram. Seus amigos e familiares podem ou não ser compressivos de forma que muitos têm dificuldade de relacionamento, de dar atenção a seus cônjuges e filhos e não conseguem ser produtivos.

Tudo isso, além do próprio sofrimento e modificações neurológicas que a dor causa, pode levar comumente à depressão e à ansiedade.

É preciso que a família e os amigos tenham empatia e compreendam as pessoas que sofrem com as dores crônicas. É necessário acolhimento e apoio para se buscar o melhor tratamento da dor.

 

Referências: